2 de jul. de 2012

Carro do ano

Meus pés doloridos de andar por todos os ladrilhos ladrões das ruas. Escuridão, peso sobre os ombros de uma noite da qual nem sei se é verdadeira noite ou se eu esqueci de acender a luz. Minha garota escreve versos sobre o amor debaixo dos lençóis, ela ri e chora brincando de passado e presente.
Há um gosto macio quando a madrugada entra sem ter medo ou raiva de mim. As vezes eu esquento uma fogueira de antigos sentimentos e queimo as cartas que o meu eu do futuro mandou para o meu eu do agora. Eu apena ignoro os aviso de que eu possa ficar careca, barrigudo e ter um carro do ano. Eu ignoro completamente o futuro de frangos-fritos cheio de gordura em minhas correntes sanguíneas. Eu ignoro o fato da America estar gorda, do Brasil estar morrendo, da Amazônia estar verde.
Minha garota diz que o por-do-sol é lindo, não nego.
Meu pai diz que o mundo pode acabar, não nego.
Minha mãe diz que sou novo demais para casar, não nego.
Meus amigos me dizem que estou ficando careca e barrigudo, não nego.
Mas ainda não tenho o sonho de possuir o carro do ano.
Anos se passaram, o carro do ano já não é do ano, as imagens em touch screen e os terroristas continuam os mesmos. Quero ser Charles Chaplin andando nas avenidas chuvosas destas tardes de Julho.
Não entro em igrejas, elas querem entrar em mim.
Agora, trepidante as chamas das minhas antigas poesias juvenis se tornam mais forte. Queimei aqueles velhos papeis passados com memórias antigas de tempos que já não existem mais. Resolvi escrever uma carta para o meu eu no passado, quero avisar que ele pode ficar careca e barrigudo.
E que não terá um carro do ano.

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