26 de jul. de 2012

Dízimo

Gastei meus sonhos
No supermercado mais próximo
Mas não suponho
Em tudo que cismo

Rostos solitários
Na demência de um espírito
Guardem-se em seus armários
Seus estranhos ritos

Gastei um punhado de Reais
Na compra de um céu
Na compra de diversos finais

Comprei uma nova religião
Sou o líder de todos
Sou o verdadeiro Deus Pagão

16 de jul. de 2012

As palavras que anunciam um fim podem ser duras
Antes mesmo que sejam, feitas puras
Mesmo com dor da guerra, batalha
Não sei se há guerra que mesmo valha

Dor, já dita e acostumada
Palavras duras foram então faladas
Não há resto, volta muito menos
Não sei o futuro que teremos

Pois então, espero um brilho no poço
Fundo que conheci já moço
Sei que pisar em novo ladrilho pode custar
O pé direito e o direito de não mais voltar

Agora já comecei a trilhar
Em pequenos passos a rota que decidi
Também decidi já não mais voltar
Agora escolhi o caminho por onde ir

6 de jul. de 2012

A partícula de Deus

Ecoam Reality-shows em seus respectivos canais televisivos. Eles não procuram a partícula de Deus pois seu Deus é o Elétron que dá vida a televisão.
As imagens chiadas, as músicas feitas em pequenos e grudentos refrões, vejo as pessoas invisíveis e as pessoas não tão visíveis em suas festas gregas, orgias ou saturnalias de champagne e vinho. Vestem-se como se tripulassem o Titanic, vestem-se como se bebessem o sangue dos bebês africanos.
Agora o fedor da brisa noturna, esgotos em céu aberto, ano de eleição. Escolheremos um idiota mor para dar ordens para idiotas do baixo clero. Eu prefiro ir para a Guilhotina de cabeça erguida para ver-la logo mais sem meu corpo.
Sou a dor da mulher grávida.
Quero rezar para os deuses gregos sagrados, sou fiel a Dionísio, sou fiel a Apollo. Quero dançar na chuva igual a Gene Kelly, quero fazer pior, sou uma pós imagem triste procurando o anjo negro da angústia. As vezes penso que tenho um coração maior que um quase mundo, só que o mundo é tão pequeno que ofusca toda a vontade do meu coração.
Dou o prazer que o mundo precisa.
Dou as minhas mãos.
Estou cansado, mas o cansaço faz parte do cara que acorda as seis da manha e atravessa a cidade pedindo esmolas.
Estou cansado, mas sou Willian Blake escrevendo poesias em margens de rios ingleses.
Sou Allen Ginsberg quebrando janelas com seus amigos dos anos 60.
Jim Morrison, me abençoe, eu não sei o que faço.e
Sou a partícula de Deus dançante e redopiante. Bilhões foram gastos para a minha descoberta, zilhões com fome na África. Ah, mãe África, descobrir algo que não faz sentido é mais importante que seus mortos sem nome. Eu brilharei de forma mortal destruindo tudo aquilo que você acredita.
Sou a partícula Divina, sou o reality show na televisão.
Afundei o Titanic por Hollywood.
Eu explodi o universo e filmei.
Está no Youtube, só ir ver.

2 de jul. de 2012

Carro do ano

Meus pés doloridos de andar por todos os ladrilhos ladrões das ruas. Escuridão, peso sobre os ombros de uma noite da qual nem sei se é verdadeira noite ou se eu esqueci de acender a luz. Minha garota escreve versos sobre o amor debaixo dos lençóis, ela ri e chora brincando de passado e presente.
Há um gosto macio quando a madrugada entra sem ter medo ou raiva de mim. As vezes eu esquento uma fogueira de antigos sentimentos e queimo as cartas que o meu eu do futuro mandou para o meu eu do agora. Eu apena ignoro os aviso de que eu possa ficar careca, barrigudo e ter um carro do ano. Eu ignoro completamente o futuro de frangos-fritos cheio de gordura em minhas correntes sanguíneas. Eu ignoro o fato da America estar gorda, do Brasil estar morrendo, da Amazônia estar verde.
Minha garota diz que o por-do-sol é lindo, não nego.
Meu pai diz que o mundo pode acabar, não nego.
Minha mãe diz que sou novo demais para casar, não nego.
Meus amigos me dizem que estou ficando careca e barrigudo, não nego.
Mas ainda não tenho o sonho de possuir o carro do ano.
Anos se passaram, o carro do ano já não é do ano, as imagens em touch screen e os terroristas continuam os mesmos. Quero ser Charles Chaplin andando nas avenidas chuvosas destas tardes de Julho.
Não entro em igrejas, elas querem entrar em mim.
Agora, trepidante as chamas das minhas antigas poesias juvenis se tornam mais forte. Queimei aqueles velhos papeis passados com memórias antigas de tempos que já não existem mais. Resolvi escrever uma carta para o meu eu no passado, quero avisar que ele pode ficar careca e barrigudo.
E que não terá um carro do ano.